Os brasileiros estão revoltados com a mais absoluta falta de seriedade nas instituições públicas. Os poderes legislativo (lembrem-se os escândalos da compra de votos e apoio), executivo (lembrem-se as denúncias de caixa 2, os desvios de verba, o uso da máquina para fins eleitoreiros) e, para tristeza geral, até o judiciário (lembrem-se o nepotismo, os favorecimentos de pessoas ligadas ao governo, os pobres, e apenas eles, "mofando" nas cadeias sem julgamento definitivo), tornaram-se ambientes favoráveis para abrigar e manter a salvo toda sorte de oportunistas e espertalhões. Impunidade.
As pessoas de bem deste país ficaram indignadas ao saber do caso de uma mulher simples, até onde consta batalhadora, mãe de um filho ainda pequeno e que está presa há quase um semestre pelo roubo de um pote de manteiga. Isso mesmo: um pote de manteiga. Seu advogado queixa-se de que três pedidos de relaxamento de pena e um de hábeas-corpus foram negados pelo juiz. O agravante de seu crime? Teria ameaçado de morte o dono do mercado. Antecedentes criminais? Nenhum. Incoerência, capaz de punir exageradamente pequenos contraventores e de deixar escapar ilesos os mais terríveis criminosos. Injustiça.
O corporativismo, a impunidade e a injustiça são sintomas evidentes de uma realidade não menos evidente, porém bem mais ignorada: o pecado. Sintomas que, embora combatidos - ainda que, nem sempre, de maneira eficaz -, insistem em reaparecer mesmo quando julgamos terem sido eliminados. Afinal, sintomas não devem ser combatidos sem que as causas de seu surgimento também o sejam. A causa é o pecado.
O pecado gera corporativismo, pois estando presente mesmo em quem não associou-se ao desvio praticado, alimenta o medo de quem sabe-se sob o risco de ser o próximo a desviar-se: "ajudo-o agora para que me ajude mais tarde". O mesmo em relação à impunidade: uma vez que o pecado, comum a todos, revela-se desde os mais simples e descompromissados gestos, acaba por acostumar-nos aos erros e a sermos condescendentes com a maioria deles. Passamos a considerá-los não mais em razão de sua motivação, prejuízo ou malignidade, mas em razão de sua menor complexidade e menor possibilidade de mover-nos de nosso lugar de conforto. O mesmo sobre a injustiça: julgando as pessoas não mais por seus valores e princípios, mas por seu status, suas posses ou seu poder de reagir contra nossas ações, tornamo-nos rigorosos com os fracos e omissos com os fortes. Estes descobrem-se acima do bem e do mal. Aqueles permanecem sob o poderio dos que detém os recursos deste mundo.
Contra o corporativismo, a impunidade e a injustiça duas esperanças: primeiro, que o evangelho segue fazendo-se proclamar e continua transformando todos quantos rendem-se à sua Verdade. Este evangelho supera o corporativismo, assegurando ao crente sua defesa não mais pelos interessados de ontem ou de amanhã, mas por Aquele que age em todas as coisas para o bem dos que o amam.
Supera, também, a impunidade, não punitivamente, mas graciosamente, pela boa e dura nova da punição definitiva imposta sobre os ombros do Cordeiro Jesus. Nele somos culpados-justificados. Por ele e em seu amor detestamos o pecado. Não pelo medo do castigo, mas pela descoberta da beleza de Sua santidade. Não com medo das reações e das revoltas dos pecadores, mas como quem põe "a cabeça a prêmio" no desejo de servir a Deus profeticamente neste mundo.
Enfim, o evangelho supera a injustiça, pois submete todos os homens e mulheres à justiça de Deus: Jesus Cristo. Nele o inocente assume o culpado, o justo morre pelos injustos. Encerram-se todos sob a mesma condenação para serem, todos, alvo da mesma salvação. Sem diferença entre ricos e pobres, homens e mulheres, judeus e gentios. Nosso julgamento (julgai todas as coisas) passa a concentrar-se em valores, princípios, atitudes, e não mais em pessoas e suas pseudo-diferenças (não julgueis uns aos outros). A justiça de Deus satisfaz, então, os famintos e sedentos por seus desejáveis manjares.
O evangelho é o anúncio da vitória de Cristo sobre o pecado. É o caminho da nossa vitória sobre o pecado. É o fim do monopólio do pecado sobre a vida.
Mas há uma segunda esperança, pois nem todos aceitarão o desafio do evangelho: trata-se da esperança escatológica, da esperança na vinda em glória do Cordeiro, da esperança nos novos céus e terra - onde habita a justiça, da esperança em Deus como juiz de todas as nações. Todos compareceremos ante seu trono de glória. Não haverá ali qualquer corporativismo; o Totalmente-Outro fará seu julgamento. Não haverá qualquer impunidade; os orgulhosos e arrogantes serão destruídos como num sonho quando se acorda (Sl 73), e os crentes em Cristo serão recebidos nEle por sua própria sujeição à punição necessária. Em outras palavras, nenhum pecado deixará de ter sido punido: o preço dos nossos foi pago pela Cruz. E não haverá ali qualquer injustiça, pois julgará conforme os segredos do coração. Não adiantarão as máscaras, as posses, os títulos, as relações de interesse. Todas as coisas estão nuas e patentes diante de quem prestaremos contas!
Não desanimemos, portanto, diante de tantos escândalos. Não cansemos de pregar o evangelho aos que ainda não renderam-se aos seus imperativos. Não desistamos da voz profética, da denúncia corajosa e do anúncio entusiasmado da Graça de Deus. Não nos sujeitemos a nenhuma forma de corporativismo, muito menos em nossas igrejas e círculos sociais. Não compactuemos com a impunidade e não sejamos moralistas. Não nos alegramos com a injustiça, mas regozijemo-nos com a verdade. Não vivamos em pecado, pois o pecado não terá mais domínio sobre nós. O Senhor, Justo Juiz, reina e voltará. Maranata!
Fonte de Pesquisa: http://www.pastormarcelo.com.br/artigos